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- Capítulo 24
sexta-feira, 1 de maio de 2020

Ela
não soube por quanto tempo ficou parada sob a sombra da árvore, por mais que
tentasse não conseguia tirar de sua cabeça a derrota que havia acabado de
sofrer. Brawly controlara a batalha o tempo todo enquanto ela e seus pokémons
pareciam marionetes que tentavam lutar contra o marionetista. Naquele momento
sentia-se a pior treinadora do mundo. Com aquele nível de habilidade, como
conseguiria derrotar os líderes de ginásio? Como conseguiria vencer a liga? De
tempos em tempos, precisava limpar as lágrimas que corriam inutilmente por seu
rosto com o peso da verdade que pairava dentro do seu ser. Como iria encontrar
sua mãe sendo uma treinadora inútil?
–
Uma garota tão bonita não deveria chorar assim – disse uma voz que lhe parecia
familiar.
Ela
ergueu os olhos embaçados e vermelhos para enxergar aquele que lhe falara. Um
rapaz de cabelos cinza-azulados e olhos de mesma cor estava agachado em sua
frente. O encontro havia sido breve, mas ela lembrava vividamente como se
tivesse ocorrido no dia anterior, afinal, fora o evento mais marcante do seu
início de jornada. Em sua frente estava
Steven Stone, atual campeão da Elite 4.
May
imediatamente rearrumou sua postura e tentou limpar o rosto, envergonhada de
encontrar o treinador daquela forma. Steven, contudo, não parecia se importar
com o estado da garota, retirando gentilmente do bolso um lenço branco e limpo
de tecido fino. Ela aceitou o objeto oferecido pelo rapaz e com ele enxugou as
lágrimas, sentindo leve aroma amadeirado ao fazê-lo, ela se perguntou se seria
este o perfume usado por ele.
–
Pode ficar com ele se quiser, apesar de desejar que não tenha de usá-lo tão
cedo – ele deu um sorriso gentil e se sentou ao lado dela.
Ela
observou-o. Apesar de manter o aspecto elegante o Stone parecia bem mais
casual, usando apenas uma camisa social branca com as mangas enroladas até o
cotovelo e calças jeans negras. Os cabelos naturalmente bagunçados balançavam
ao toque da brisa litorânea, sendo apenas minimamente contidos pelos óculos de
sol de cor negra colocados sobre eles. Steven parecia um componente natural de
qualquer pintura que retratasse a beleza natural do muno. O que estaria fazendo
em Dewford? Ele não parecia ser do tipo que tirava férias em uma ilha tropical
em plena temporada aberta de liga.
–
Toda vez que você me vê eu estou em uma situação desagradável – comentou a
garota com um pequeno sorriso – Pelo menos agora posso falar que consegui me
tornar uma treinadora, mesmo que não seja boa nisso.
–
Estar em companhia de belas damas nunca é desagradável – ele respondeu olhando
para frente. Em seguida voltou seu olhar para a garota fazendo- a corar e
desviar o olhar, seu rosto estava sério – Mas por que motivo diz que não é uma
boa treinadora?
Ela
demorou alguns segundos para responder, sentia-se envergonhada.
–
Eu acabei de ser derrotada pelo Brawly. Ele me venceu fácil, meus pokémons nem
tiveram chance. Aliás, o problema não é com Skitty e Dustox, é comigo. Como
diabos eu não fui me lembrar de que a habilidade especial da Makuhita era Thick
Fat? Por que eu fiz a Skitty usar o Icy Wind? Eu sou horrível.
Steven
ouvia o monólogo da grama da garota de modo tranquilo e, quando esta terminou,
ele pegou um pedaço de grama e brincou com ele antes de começar a falar.
–
Eu conheço o Brawly há muitos anos, antes mesmo dele se tornar líder de
ginásio. Ele tem sua maneira particular de batalhar e de avaliar os desafiantes
que buscam sua insígnia.
–
E com certeza eu passei longe de ser aprovada por esse método – ela deu de
ombros e encolheu as pernas, colocando os braços sobre os joelhos.
–
Eu sinceramente duvido disso. Achei que tinha talento desde a primeira vez que
te vi e confirmei essa suposição quando fiquei sabendo que ajudou a Corporação
Devon a pegar um criminoso – a garota arregalou os olhos ao ouvir as palavras
ditas pelo rapaz, não imaginava que aquilo poderia chegar aos ouvidos dele.
–
C-Como você... como você soube disso? – Steven deu uma pequena risada.
–
Você se lembra do nome do presidente da Devon?
–
Hum... Senhor... Sr. Stone – ela corou imediatamente pela gafe cometida,
esquecera-se totalmente de que o fundador da Devon era avô de Steven –
Desculpe.
–
Normalmente é a primeira coisa de que as pessoas se lembram depois do cargo de
campeão da Elite. Você não lembrou de nenhuma das duas, está aí a prova de que
é uma garota diferente.
Ela
não sabia o que significava aquela última afirmação, então preferiu não
respondê-la e ao invés disso mudou de assunto.
–
Mesmo assim... Eu praticamente não fiz nada. Quem os pegou mesmo foi a Roxanne
e os policiais.
–
E a insígnia do ginásio de Roxanne? Você também não fez nada? – ela ergueu uma
sobrancelha para o treinador de elite.
–
Você andou stalkeando minha vida? – A pergunta inesperada fez o jovem ficar sem
graça pela primeira vez naquela conversa, ela podia jurar que havia visto um
leve rubor passar pelo rosto dele. Steven pigarreou antes de prosseguir.
–
Bem, na verdade Jonas tinha bastante coisa para falar de você. De você e dos
seus amigos – explicou. A garota deu de ombros.
–
Ele é uma pessoa gentil.
–
Roxanne e eu somos rivais de longa data, aliás, desde que éramos crianças. Você
sabia que ela já foi campeã da elite dos 4?
–
Sério? – ela questionou surpresa – Eu não sabia.
–
Não acho que seja uma coisa que ela goste de divulgar muito. Roxanne é uma
treinadora incrível e ainda hoje eu acredito que tê-la vencido foi um golpe de
sorte. Talvez se ela houvesse me desafiado novamente, coisa que poderia ter
feito, sairia vencedora. Mas a verdade é que encontrou seu lugar, aquele
ginásio sempre foi a paixão dela.
Steven
usava um tom carinhoso na voz que fez a May sorrir inconscientemente. Ela nunca
havia parado pra pensar sobre as relações que os líderes de ginásio podiam ter
uns com os outros nem quão estas poderiam ser de fortes e duradouras.
–
Finalmente um sorriso de verdade – ele comentou dando um sorriso torto. A
garota sentiu o rosto esquentar mais uma vez e o desviou fazendo um bico.
–
O que você veio fazer aqui? – ela mudou de assunto, fazendo essa pergunta que
vinha se passando por sua cabeça.
–
Está me mandando ir embora?
–
Não, claro que não! – ela balançou a cabeça negativamente rindo – Em Dewford,
eu quis dizer...
–
Não posso ter vindo passar umas férias? – ele questionou fazendo um leve tom de
voz ofendido – O campeão da elite trabalha muito, sabe. Não vivemos só fazendo
stories para o instagram.
–
Você veio tirar férias?
–
Na verdade, não – disse com um meio sorriso – Eu vim encontrar você.
–
Me encontrar? Por que? – perguntou nervosa, imaginando no que sua vida poderia interessar
a alguém como Steven.
–
Gostaria de agradece pessoalmente a você e seus amigos, mas em especial a você.
–
Ah, então... de nada... É muita gentileza da sua parte ter vindo tão longe só
para isso – a garota agradeceu educadamente, embora um pouco confusa.
–
E eu também vim aqui para lhe dar algo importante para expressar minha gratidão
– do cinto de pokeballs que portava, ele tirou uma das esferas, a última da
esquerda e a entregou à treinadora que a recebeu simplesmente boquiaberta –
Esse Pokémon lhe pertence agora.
–
Por... porque você está me dando um pokémon? Quero dizer... eu não posso
aceitar – ela esticou a mão com o objeto de volta ao mais velho que fez um
sinal negativo com a cabeça – Não tem motivos para me dar esse pokémon, não fiz
nada para merecer isso.
–
Eu não posso lhe dar um pokémon se eu quiser? – questionou com um sorriso
brincalhão – Além disso, ele ficará muito feliz de batalhar ao seu lado de
novo. Não tenho muito tido muito tempo para treiná-lo e creio que crescerá
melhor ao lado de uma grande treinadora em ascensão.
–
Não me diga que... – os olhos azuis se arregalaram pela surpresa e ela
pressionou o botão central da esfera duas vezes para deixar sair a criatura
contida em seu interior.
O
mesmo corpo metálico em forma de foguete e o mesmo grande e brilhante olho
vermelho que ela vira há dias atrás agora a encarava com uma expressão de
felicidade. Aquele foi o primeiro Pokémon com o qual ela batalhara. Beldum se
aproximou de May e se aconchegou em seu corpo, deixando-se ser envolvido pelos
braços magros. A tristeza da derrota havia sido praticamente esquecida, sendo
totalmente substituída pela alegria de ter um novo pokémon.
O
momento somente foi interrompido quando o rapaz ao seu lado se levantou. Ela
ergueu os olhos para o treinador e fez o mesmo, ainda com o Beldum em seus
braços.
–
Mas... vocês... digo, Beldum vai ficar bem? Quero dizer, você é o treinador
original dele e... – Steven cortou-a com um aceno da mão.
–
Oh, não se preocupe com isso, não é Beldum? Eu tenho uma ligeira impressão de
que ele almeja ter a oportunidade de ter uma grande batalha com o Aron no
futuro.
Isso
fez a garota dar uma gargalhada, ela lembrava-se bem de como era a relação dos
dois pokémons do tipo metal, eles entravam em atrito a cada vez que se
encontravam. Beldum usando seu magnetismo natural, soltou-se dos braços que o
seguravam e voou até o antigo treinador. Ela não entendia o que aquele gesto
queria dizer, mas aparentemente Steven sim, pois passou a mão no que deveria
ser a cabeça do pokémon enquanto olhava-o com ternura.
–
Seja bonzinho, ok? – disse com voz carinhosa, talvez tenha sido impressão dela,
mas achou ter visto os olhos do campeão ficarem levemente marejados – Eu
preciso ir agora – colocou os óculos escuros sobre os olhos cinzentos.
–
Espere! – Ela não sabia o que falar. Não conhecia quase nada do campeão, mas
sentia-se estranhamente ligada a ele – Eu... eu vou te ver de novo? Quero
dizer, por aqui na ilha ou sei lá...
Steven
pôs uma das mãos atrás da cabeça, gesto descontraído que a garota nunca
esperaria ver.
–
Ah, sabe como é. Eu estou sempre por aí, mas irei passar no ginásio para ver
sua revanche contra o Brawly – ela sentiu seu rosto esquentar novamente olhou
para o chão.
–
Revanche que eu nem sei se vai acontecer... – ela respondeu em voz baixa.
–
Não seja pessimista, eu acredito em você – passou a mão na cabeça da garota –
Lembre-se de me avisar, ok? Marque seu desafio e eu estarei lá.
E
dizendo isso saiu andando sem se despedir, quem sabe estivesse guardando o
adeus para quando se reencontrassem dali alguns dias. Ela apenas o observou
caminhar pelas ruas, praticamente se misturando entre os turistas. Beldum ainda
pairava ao lado da treinadora de cabelos castanhos, ela sorriu para a criatura
e fez sinal para que este a seguisse até o Centro Pokémon.
Era
horário de almoço, geralmente nesses momentos do dia o hospital ficava cheio,
mas por sorte ou talvez porque não ocorria uma grande quantidade de batalhas na
cidade, ela conseguiu ser atendida rapidamente. Algumas cabeças se vivaram ao
ver o pokémon metálico flutuando ao lado da jovem, mesmo aquela criatura sendo
nativa de Hoenn, não era comum vê-la em estado selvagem ou mesmo do lado de
alguns treinadores. Apenas uma Chansey estava do lado interno do balcão, a
enfermeira provavelmente estava em seu horário de almoço. A menina deixou
Dustox e Skitty com a pokémon rosada e retornou Beldum para sua pokeball. Estava
pensando se deveria subir para comer, quando uma figura familiar surgiu ao seu
lado.
–
Oi Reina – Ela cumprimentou a mulher que havia encontrado há poucas horas e
esta, ao ver quem a chamava, sorriu.
–
Oh, olá... Acho que não perguntei seu nome – ela levou à mão direita até a
bochecha, levemente sem jeito.
–
Meu nome é May – a mais nova respondeu enquanto observava a outra. Diferente de
quando havia a encontrado mais cedo, a mulher agora se vestia casualmente, com
uma camisa preta com a estampa de um Timburr e shorts brancos.
–
Então May, como foi a batalha contra Brawly? – perguntou distraidamente
enquanto entregava uma caixa pequena de pokeballs à Chansey. May suspirou.
–
Se você sabe que eu lutei contra ele, também sabe que eu perdi terrivelmente.
Reina
deu um sorriso condolescente para a garota.
–
Eu soube pelos seus amigos, sinto muito. Mas Brawly disse que você se saiu bem,
vai conseguir da próxima vez.
–
Ele estava sendo gentil, parecia que tudo o que eu fazia era anulado por ele.
Eu fui péssima. – suspirou e cruzou os braços - Sei que dá próxima vez posso usar
minha outra pokémon, mas não vejo possibilidade de vencê-lo em uma luta dois
contra dois.
–
Você está vendo as coisas pelo lado errado. Pense no que Brawly espera de um
treinador e prepare seus pokémons, você vai conseguir! – a mais velha colocou a
mão em seu antebraço – Eu já vou indo agora.
E
dizendo aquelas palavras andou na direção das portas automáticas, mas antes de
sair, freou seus passos e olhou de novo para a garota, notando que ela
continuava a manter a cabeça abaixada e o olhar perdido.
–
Ora, vamos! – insistiu – Vai me dizer que nunca perdeu uma batalha pokémon?
Ela
lembrou-se das derrotas terríveis contra Lunna e contra o homem que os atacara
na floresta.
–
Já, mas... Não sei. Eu realmente pensava que havia evoluído. Talvez eu estivesse
enganada no fim das contas – ela fez um pequeno dar de ombros.
–
Venha comigo – fez um sinal chamando a adolescente – Vamos dar uma volta.
___
–
Por que raios estamos fazendo isso mesmo? – perguntou um Brendan ofegante para
Juliana que corria ao seu lado. Ambos estavam encharcados de suor, apesar de
não estarem naquela atividade por mais do que alguns minutos.
–
O Brawly disse que iria ajudar a melhorar nossa coordenação e desempenho nas
batalhas – respondeu a negra que mesmo sentindo os efeitos do cansaço, ainda
estava um pouco melhor do que o adolescente.
De
alguma forma, o almoço com o líder de ginásio havia se tornado uma corrida por
um campo de batalhas. Nenhum dos dois se lembrava do exato momento em que
haviam concordado com aquilo ou o porquê de não terem negado, pareciam apenas
ter seguido uma ordem do mais velho e agora estavam naquela situação inusitada
em meio aos temais alunos tutorados por ele. Ao lado deles, Mudkip e Nigel
corriam, ou saltavam, no caso deste último. Os demais adolescentes não pareciam
demonstrar nem de perto o cansaço expressado pela dupla, muito menos seus
pokémons, a maioria do tipo lutador, como se já estivessem habituados àquele
tipo de treino.
–
Façam polichinelos agora – disse o líder fazendo um gesto com a mão.
Imediatamente seus alunos pararam e fizeram o que lhes foi pedido, exceto pelos
dois treinadores que já se sentiam simplesmente esgotados – Vocês dois também.
A
negra seguiu a ordem, porém o garoto fechou a cara e cruzou os braços.
–
Por quê? – questionou, fazendo o Brawly erguer uma sobrancelha.
–
Treinar junto com seu Pokémon melhora relação com ele, seu equilíbrio e
instinto nas batalhas.
–
Eu não estou interessado em... – ele começou a falar, mas foi interrompido por
um leve tapa na nuca dado por Juliana.
–
Desculpe, Sr. Brawly. O Brendan não quer ser desrespeitoso. Não é mesmo,
Brendan? – o adolescente olhou cara feia para a amiga.
O
líder, porém, já não prestava atenção nos dois. Havia retirado a camisa
exibindo o peitoral definido das longas horas de treinamento. Os demais alunos
fizeram os mesmo que seu mestre, permanecendo as garotas apenas com um top
escuro. O líder fazia movimentos que
simulavam posições de combate, os efetuava de forma mais lenta para que os mais
jovens pudessem repetir, não que fosse realmente necessário, provavelmente
fazia aquilo pelos visitantes. Makuhita havia sido liberado e estava ao seu
lado, executando golpes que se assemelhavam muito ao de seu humano, que eram
imitados pelos pokémons.
–
Lembrem-se, corpo e espírito devem sempre estar em sintonia e essa sintonia só
vem de trabalho duro – respirou profundamente antes de prosseguir – Existem
determinados movimentos corpóreos que a única maneira de atingí-los e
alcançando o ponto máximo de equilíbrio corporal.
E
dizendo isso fechou os olhos e ergueu sua perna esquerda, tocando a parte
interna da coxa com o pé. Seus dois braços também se elevaram acima da cabeça,
entrando em contato um com o outro apenas pelas pontas dos dedos indicador e
médio. Os demais tentaram imitá-lo, porém nem perto da mesma graciosidade com
que o líder fizera o movimento. A maioria deles acabara por conseguir inclusive
os pokémons, que por sua vez replicavam os movimentos produzidos pelo Makuhita.
Os únicos que não haviam conseguido alcançar aquele ponto eram Brendan e Nígel,
por mais que tentasse, o treinador não conseguia atingir a estabilidade de seu
corpo.
–
Isso é idiotisse – comentou o garoto em tom baixo, mas fora o suficiente para
os demais ouvirem. Todas as posições foram quebradas pela visível irritação dos
alunos, até mesmo Juliana olhava para o amigo incrédula.
O
único que havia permanecido inalterado era o líder de ginásio, parecia sequer
ter ouvido as palavras do treinador, porém alguns segundos depois, voltou ao
seu arranjo corporal normal.
–
É comum os adolescentes chamarem de idiotisse aquilo que não conseguem fazer
quando se sentem machucados pelo ato de tentar.
–
E como fazer uma posição de Combusken bêbado poderia me machucar? – retrucou.
–
Quando se fecha os olhos e não há mais nada no que pensar, nossa mente passa a
olhar para dentro de nós mesmos. O que há dentro de você que te desequilibra e
te machuca a ponto de você não conseguir encarar a si mesmo, Brendan?
O
menino fechou as mãos com força ao ponto das unhas quase ferirem a pele diante
às palavras do líder.
–
O que há dentro de mim é o aborrecimento por estar perdendo meu tempo fazendo
isso.
–
Você não é obrigado a estar aqui. A porta do ginásio sempre esteve aberta para
todos que quisessem ir e voltar – respondeu o líder, fazendo sinal para seus alunos
que imediatamente tiraram a discussão de foco e retomaram o que faziam.
–
Ótimo, estou caindo fora! – e dizendo isso virou de costas e caminhou rumo á
saída.
–
Brendan – começou Juliana, mas o jovem a interrompeu bruscamente.
–
Eu quero ficar sozinho – anunciou sem se virar.
A
negra observou o garoto se afastar com uma expressão triste, agora dois de seus
amigos haviam se magoado e saído de cena, deixando-a sozinha. A bela cidade de
Dewford com certeza não havia feito bem a eles. Abaixou-se para o roedor
azulado que estava ao seu lado observando a cena toda e disse baixinho de modo
que só ele pudesse ouvir.
–
Nigel, vá atrás dele – Seu pokémon a encarou com uma expressão receosa, mas
concordou e começou a dar pequenos saltos na direção do adolescente.
***
O
meio da tarde havia chegado, finalmente as altas temperaturas diárias começavam
a se amenizar. O garoto andava sozinho e distraído em meio à própria raiva.
Raiva da irritação pelo líder achar que podia se dirigir a ele daquela maneira
e mais raiva ainda por estar se questionando se, no fundo, o mais velho não
estava certo. Tinha consciência de que o Azurill de Juliana estava atrás dele,
mas ignorava a presença do pokémon, afinal, se o mandasse embora e o mesmo se
perdesse, se sentiria responsável por procurar por ele.
Caminhava
tanto e com passos tão apressados que mal notou que já estava no norte da ilha.
O chão arenoso foi substituído por solo mais compacto e de coloração mais
escura. O adolescente interrompeu seu caminhar refletindo se não seria momento
de voltar, Nigel fez o mesmo, porém balançou levemente as orelhas por alguns
segundos e prosseguiu adiante com seus pequenos passos.
Brendan
observou o pokémon interessadamente e o seguiu. Após ultrapassarem algumas
árvores se depararam com a entrada de uma grande e larga caverna. As pedras
escuras e lisas do piso e da parede refletiam a luz que entrava por algumas
aberturas no tento, dando ao local uma misteriosa luminosidade azulada. Não
havia nenhuma criatura viva perambulando pelo local, talvez a chegada de um
humano as tivessem feito se esconder, de qualquer modo, não deixava de ser um
faro curioso, pois pelo que se lembrava de suas aulas de geografia, aquela era
a Granite Cave, uma das cavernas de Hoenn mais rica em biodiversidade.

Movido
pela curiosidade, adentrou a grande edificação natural. À esquerda, um pequeno
fiapo de água atravessava a caverna, provavelmente seguindo na direção do mar.
Com olhos atentos, finalmente viu o primeiro registro de habitação natural,
sendo este um pequeno Zubat que dormia a sono solto empoleirado à uma das
estalactites do teto.
A
cada metro que andava, o ambiente ficava cada vez mais pesado e a luminosidade
diminuía. Algo ali fazia os pelos na nuca do treinador se arrepiarem, como se
estivesse adentrando um lugar de energia muito forte. Nigel havia ficado para
trás, apesar de ter sido ele a levá-lo até lá. Brendan virou-se para encará-lo.
–
Você não vem? – perguntou ao pokémon.
–
Azuul – o roedor guinchou em resposta e negou com a cabeça.
O
garoto revirou os olhos e liberou seu Mudkip, ainda não entendia o motivo de
querer estar ali ou de explorar aquele lugar, talvez fosse o simples impulso
adolescente de buscar por coisas novas. O anfíbio analisou o ambiente incomum
em se encontrava e em seguida questionou seu treinador com o olhar. O que ele
estaria tentando fazer? Pensava.
Contudo,
algo chamou a atenção da criatura aquática, fazendo sua barbatana tremer e se
direcionar para um ponto a sua esquerda. A princípio, Brendan não entendeu para
onde seu Pokémon se dirigia, mas longo viu uma fenda escura entre as rochas
negras. Mudkip observou a fenda por mais alguns instantes até decidir entrar
ali.
–
Mudkip – o garoto chamou baixo, mas não obteve resposta de seu pokémon.
Aproximou-se
da abertura e respirou fundo, a curiosidade era mais forte do que o instinto de
fugir dali. O espaço era estreito, mas o suficiente para uma pessoa magra
passar sem dificuldades. Ele se espremeu por entre as paredes por longos
segundos até finalmente se ver livre e poder respirar direito. Quase não
conseguia enxergar em meio ao breu, necessitou de vários segundos para que seus
olhos pudessem se habituar ao ambiente.
Seus Mudkip estava alguns metros a sua frente, sua barbatana ainda
tremia e ele andava de um lado para o outro como se algo lhe provocasse
inquietação.
–
Mudkip – chamou mais uma vez. O anfíbio o olhou rapidamente, mas parecia que
seu objetivo era exatamente aguardar por seu treinador pois andou mais alguns
metros a frente logo em seguida.
Brendan
estava irritado, já pegava a pokeball para retornar a criatura quando notou que
ele havia descido por algo mais adiante. Aproximou-se e percebeu uma grande
escadaria de degraus lados feita mármore. Ele ergueu uma sobrancelha, quem
teria construído esse tipo de coisa logo ali? Decidiu descer e conforme
adentrava nas profundezas da terra, o ambiente ficava estranhamente mais
claro. Ao seu redor, as paredes agora
feitas de pedras lisas exibiam diversos desenhos de formatos estranhos que ele
não conseguia distinguir a princípio, mas que pareciam ser incrivelmente
antigos. Aos poucos, com cada nova sequência de ilustrações, ele conseguia
reconhecer mais desenhos, figuras humanas e uma grande quantidade de pokémons.
Por
fim, chegou ao que parecia ser uma grande câmara ou sala construída dentro da
caverna. Á direita desta, mais degraus desciam para o que devia ser um piso
ainda mais inferior. Um archote estava acesso e preso à parede iluminando o
local, fazendo-o se questionar se havia mais alguém ali. Porém, todos os
pensamentos foram tirados de sua cabeça mediante a grande pintura feita na
parede oposta.
Era diferente
das demais, mais nítida e de maior precisão. Não possuía cores, mas não era
necessário, pois o adolescente conseguia vislumbrar tudo aquilo como se diante
dele estivesse uma tela de cinema e não uma parede de pedra. Duas criaturas
estavam representadas, imensas e poderosas, em posição de Yin Yang. Entre elas,
vários humanos, alguns sendo massacrados pelas criaturas, outros em uma espécie
de culto a uma joia semelhante a um meteorito. Superior ao meteorito, uma
grande e poderosa criatura vinda do céu ia em direção a eles. O garoto mal
havia se dado conta do tanto que havia se aproximado, as paredes ao seu redor
pareciam zumbir. Em esticou a mão, a pele dos dedos tocou a superfície áspera,
uma espécie de formigamento gelado se iniciou na ponta de seus dedos e subiu
rapidamente pelo braço.

Involuntariamente
um pequeno grito de susto saiu de seus lábios quando ele retirou abruptamente a
mão e recuou alguns passos. Acabou por não notar seu pokémon atrás de si o que
fez com que tropeçaste nesse e caísse no chão. Mudkip correu até seu treinador
enquanto este, levemente confuso, passava a mão pelas costas doloridas.
– Você não
deveria estar aqui – disse uma voz vinda de sua direita. O garoto endireitou
sua postura e levantou-se para ver aquele que lhe falara.
No andar
inferior, um treinador de cabelos branco azulados e olhos cinzentos o encarava
com uma expressão de reprovação. Ao seu lado estava um enorme pokémon metálico
quadrúpede de olhos vermelhos e uma marca em forma de “X” na face, ele emanava
uma leve luminosidade com a qual era possível ver seu treinador. Brendan observou-o mais, aquele homem era
incrivelmente familiar.
– O-o que?
– Você não
deveria estar aqui – repetiu – Essa caverna foi interditada ao público.
O mais novo
variou seu olhar entre humano e pokémon, foi quando finalmente a lembrança veio
à sua mente.
– Você... Você
é Steven Stone? Campeão da Elite dos 4 de Hoenn?
O colosso de
metal juntou seus braços metálicos ao corpo e flutuou até a sala iluminada,
fazendo formarem-se no mesmo pequenas rachaduras ao pousar. Brendan recuou, o
tamanho e imponência da criatura assustavam.
– Não importa
quem eu seja. É melhor que vá embora, esse lugar não é seguro.
O garoto
cerrou as mãos, seu espírito de contestação gritou para se manifestar, mas sua
mente ainda estava atordoada pela sensação que acabara de vivenciar. Por isso,
se limitou a concordar com a cabeça e chamar seu Mudkip para juntos saírem
dali. Poucos minutos depois, enquanto subia a escada achou ter visto dois
pontos o seguindo, contudo, quando se virou, não viu nada além da escuridão.
***
“– Acredite ou não o
Brawly já se considerou o pior treinador do mundo – disse a mulher de cabelos
azuis enquanto May se esforçava para acompanhar seu ritmo.
– Como assim? Ele
subestimava suas habilidades? – indagou ofegante.
– Na verdade, não – riu
– Ele era realmente um péssimo treinador, terrível. “
May
estava sentada na areia observando o céu em tons de laranja e azul escurecer
cada vez mais à medida que o dia terminava. Seu corpo estava cansado e sujo, mesmo
estado de suas roupas que mal pareciam ter sido lavadas na noite anterior. Em
seu colo, a pequena Skitty descansava enquanto tinha a cabeça acariciada por
sua treinadora. As palavras ditas por
Reina flutuavam em sua mente, indo e voltando toda hora para a superfície.
“Agora que você sabe o que sabe sobre o Brawly,
pense. Em que ele te avaliaria? O que um grande treinador deveria possuir para
ele?” Foram as últimas palavras da mulher antes de deixá-la sozinha. A
verdade é que com o passar das horas ela não havia chegado à resposta nenhuma:
como vencer um treinador cuja motivação parecia ser tão maior do que a sua?
–
Vamos dar uma volta antes de voltar ao Centro? – a gata soltou um miado de
reclamação – Eu te carrego, apenas quero pensar mais um pouco.
Com
Skitty nos ombros, a treinadora continuou a caminhar rumo ao norte da ilha.
Andou por centenas de metros até se deparar com uma grande edificação
parcialmente destruída. A hera havia dominado o lugar e os vitrais estavam
praticamente todos partidos, diversos pontos de infiltração atravessavam as
paredes fazendo o mofo crescer abundantemente em vários lugares.
Ela
entrou por uma grande porta entreaberta do prédio que rangeu com seu empurrão.
Sabia o que era aquele lugar, Reina havia lhe dito. Grandes paredes brancas de
concreto, agora já escurecidas, o chão de granito quebrado em dezenas de
fragmentos por onde cresciam amontoados de erva daninha. A vegetação cobrira o
topo de todas as pilastras, bem como o teto de onde quase todas as telhas
haviam sido arrancadas. Aquele era o antigo ginásio de Dewford, destruído e
abandonado vários anos antes de ter sido fechado.

O
som de passos ecoou pelo ambiente, alguém vinha pela direção oposta a dela.
Quando este atingiu a luz, ela percebeu que se tratava do líder de ginásio.
Naquele momento, ele trajava uma blusa preta comum e bermuda de cor laranja.
–
O-o que você faz aqui? – a pergunta escapou inconscientemente dos lábios da garota.
–
Acho que sua amiga está te procurando – ele continuou a se aproximar, olhava ao
redor distraído e com as mãos no bolso.
–
Eu... eu já estou indo, mas... – não soube como prosseguir.
–
Foi Reina quem te trouxe aqui?
–
Foi, ela... Nós conversamos – respondeu um tanto insegura.
–
Talvez ela tenha visto algo de especial em você.
Ele
passou pela garota e foi até uma das pilastras, tocando-a com a ponta dos dedos
com interesse. May não soube o que falar, não entendia o que o mais velho
queria dizer.
–
Você andou treinando não foi? – apontou para as roupas da garota e para Skitty
que cochilava em seus braços - Remarcarei nossa batalha de ginásio para daqui a
quatro dias.
–
Não! Quero dizer... Eu não estou pronta.
–
Você vai fugir da tempestade, May? – questionou, os olhos dele pareciam carregar
a própria tormenta. Aquele treinador que havia vencido a tudo e a sim mesmo pra
estar ali. Ela não sabia onde ele queria chegar, mas algo em sua mente começava
a clarear.
–
Não.
–
Então me encontre daqui a quatro dias para lutar pela minha insígnia. Quero ver
do que você é feita.
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Heeeey Carol, tudo bom?
ResponderExcluirCAPÍTULO 24, basicamente as consequências da batalha do 23 e no que elas afetam nossos queridos personagens.
Não esperava o Steven aparecendo pra May agora, menos ainda que ele daria para ela um Beldum, pelo menos não tão cedo, mas faz muito sentido levando em conta que ele vai demorar pra evoluir e ela precisa criar um laço com ele e talz. Ainda assim é percetível que ele tem certo interesse na jovem, interesse até demais, mó stalker como ela mesma disse hauahauahaushaua, btw só pra deixar aqui registrado que eu shippo Roxen.
E temos nosso menino Breno, cada vez mais revoltado e sem causa indo contra tudo e todos, é interessante ver que talvez pelo passado do Brawly ele só releva, ele nem se abala pelo piti do Brendan e só manda ir embora haushsuahaushs
Mas pelo menos ele vai parar em um lugar interessante, uma bela caverninha com seus zubats e suas pinturas antigas e misteriosas, lá vai menino Brendan se envolver com conflito de lendário, vai morrer.
E bem, no final temos Brawly chamando a May no cantinho e desafiando pro duelo, de novo hauahaushaua, pelo menos alguém precisa ter atitude nesse lugar se não ela fica adiando, mas pelo menos dessa vez ela tem um tempinho legal pra treinar, fico curioso com quais mons ela usará, eu apostaria na Theo e no Shino.
No mais é isto, gostei do cap, interessante ver um pouco mais dos pensamentos da May sobre si mesma como treinadora e desses problemas do Brendan consigo mesmo, por mais que ele corra não dá pra escapar de si mesmo HAUAHAYAHAUAHAHA
See Ya
Ora ora se não é o Stevo distribuindo Belduns por aí. Eu realmente pensei em fazê-lo aparecer mais para o futuro, mas ai refleti que ele e o pokémon teriam uma relação muito mais forte e que a May precisa de tempo para treinar seu bichinho né. ALO POLIÇA QUERO FAZER UMA DENUNCIAA, ALGUÉM PARE O STALKER DO STEVEN.
ExcluirBreno não é Breno se não causar confusão e tumultuar né, Brawly já conhece o tipo e só falou pra ele ir passear. Ao menos dessa vez ele nos serviu de guia turístico da ilha e nos levou até uma caverna misteriosa. Ele podia morrer? Podia, mas é por uma boa causa.
Brawly é líder de ginásio raiz, chama no cantão e fala: eai arrombado vai encarar de novo ou quá? Vamos ver como a May vai reagir a esse desafio, ao menos dessa vez ela terá chances de elaborar uma estratégia.
Fico feliz que tenha gostado do capítulo, Grovy! Logo mais teremos ação de novo e a tão esperada batalha de ginásio.
Até a próxima!
Olá Carol, tudo bem?
ResponderExcluirVamos lançar a brava no AA?
"Anan pare de lançar a brava"
PF, só uma bravinha...
"NÃO!"
Ok, vou comentar então!
Gostei de ver que mesmo o Brendan puto com a vida, ele ainda tem cabeça para se importar com o ratinho da Ju, ele no fundo só quer seu espaço.
Steve distribuindo Beldum para todo treinador que ganha uma insígnia, mal sabe a May que ela é só mais um treinador e que ele não acha ela especial... Pobre garota.
May treinando para dar um chablau no Brawly, sei que ela consegue vencer ele na próxima, então bora para revanche!
Muito gostoso de ter lido esse capítulo Carol, mande mais para mim logo, quero ver o que mais hoenn tem para nos dar!
Até mais...
PARE DE LANÇAR A BRAVA ANAN!
ExcluirSe escavarmos no fundo, mas beeeem no fundo mesmo. O Brendan tem bom coração rs. Haja pá.
Senhora, você quer um Beldum senhora? Venha cá! A May tainha é só mais uma.
May vai chegar no ginásio só na força do ódio no gym. Vamos ver se ela será capaz de conseguir a insígnea.
Obrigada pelo comentário, Anan! Logo logo sai mais cap!
Yooo Carol
ResponderExcluirNão vou negar, essa derrota pra May foi uma boa, STEVEN IS BACK. Meu husbando supremo apareceu várias vezes e eu to emocionada ahsuashuuahs Muito fofo como ele age como um tutor pra pequena May e muito legal vc trazer o Beldum lá do capítulo 1 de volta. Espero que os dois vençam muito agora <3
BRENDAN É MEU ESPIRITO ANIMAL E EU POSSO PROVAR! Ver ele irritado por fazer exercícios só prova que ele é minha cara haushuahusau MELHOR PESSOA! E parece que ele descobriu algo proibido pq o Stone, vulgo marido meu, ficou pistolito haushuausha
Ansiosa pra ver a revanche da May contra o Brawly, espero que ela tenha tirado alguma lição da conversa com a Reina. HORA DA VITÓRIA, MAY <3
Excelente capítulo Carol
see ya
Quem liga pra May ter perdido, o que importa é que O STEVEN APARECEU DE NOVO, vamos todos crushar ele pq ele merece. É um nenem super cavalheiro e gentil.
ExcluirBrendan representa todos nós kkk quem é que faz exercícios espontaneamente? No fundo o moleque estava certo. BRENDAN FIQUE LONGE DESSA CAVERNA, protagonista não pode ver um lugar perigoso que já quer entrar.
A revanche da May foi tão gostosa de escrever que guardei com carinho em meu coração e ainda é um dos meus capítulos preferidos <3
Obrigada pelo comentário, Star-chan! Espero que continue gostando!