segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
May
andava calmamente pela ruas de Oldale, aquele era o primeiro Natal que passara
longe de seu pai. Entretanto, para ela não fazia diferença, afinal nunca
entendera o significado daquela data. Quando criança o único motivo de
esperá-lo era ganhar presentes, mas agora... Não lhe fazia muito sentido
comemorar algo que sequer entendia.
As
ruas da pequena cidade estavam agitadas naquela tarde. Pessoas andavam
apressadas de um lado para o outro buscando concluir os últimos preparativos
para o Natal. Sacolas de compras e presentes eram vistos por todos os lados
juntamente com algumas decorações e árvores de Natal. Uma movimentação mais a
frente chamou-lhe a atenção e ela viu um punhado de crianças correndo atrás de
um homem vestido de Papai Noel que encontrava-se sobre uma caminhonete.
-
Esta bem cheio, não é? Um monte de crianças da cidade é pobre e não vai ganhar
presente esse ano – Disse uma voz ao seu lado chamando-lhe a atenção. Era um
garoto pequeno e magro. Possuía cabelos e olhos negros como a noite e pele
pálida. Vestia uma blusa branca um pouco suja e uma bermuda marrom de aparência
bem velha e chinelos tão finos que ela perguntava-se se não seria melhoro o
garoto andar logo descalço.
-
Não vai lá com eles? – Perguntou. O menino deveria ter uns sete ou oito anos no
máximo. Ele, entretanto, negou com a cabeça e sentou-se na calçada ao lado de
algo que se assemelhava muito a um caixote de engraxar.
-
Eu seria pisoteado – Suspirou ele.
-
O que está fazendo por aqui a essa hora?- Ele apontou para o caixote ao seu
lado.
-
Estou trabalhando. Eu queria comprar um presente de Natal para papai esse
ano...
-
Isso é legal – Comentou a garota enquanto observava um pequeno pássaro descer
em voo rasante. Suas penas azuis vermelhas e brancas balançavam com o toque do
vento e o pequeno bico amarelo carregava fruta vermelha de aparência apetitosa.
Ele pousou entre ambos e ofereceu a fruta ao garoto – É seu? – Perguntou com um
sorriso.
-
Mais ou menos. Ele mora em uma das árvores do quintal mas quando eu saio ele
fica indo atrás de mim. Nós somos amigos – Pegou a fruta que o pokémon
oferecia-lhe e comeu com vontade, como se houvesse sido a única refeição que
tivera no dia.
By; Zerochan
-
O que você quer dar para o seu pai?
-
Eu não sei... Ele está desempregado, sabe... Esse ano nós não teremos Natal lá
em casa... Se o Papai Noel existisse eu ia pedir um presente para ele e para
meu irmão Tom que é pequeno. Se bem que mamãe sempre diz que tenho o Darkrai no
corpo porque sou muito levado, então ele não ia vir – Suspirou – Para o meu
irmão eu dei meu carrinho de madeira que ganhei do vovô, mas não tenho nada
para dar papai...
May
se sentiu um pouco tocada pela história do garoto. Ela não sabia se o mesmo
estava dizendo a verdade, mas aqueles olhos pareciam tão tristes que
conseguiram convencer-lhe.
-
Qual é o seu nome?
-
Joseph – Respondeu e em seguida levantou-se com a alça da caixa sobre os ombros
– Eu tenho que ir. Obrigado por conversar comigo...
- Ei espere! Se quiser dinheiro para
comprar o presente... Eu tenho algum aqui comigo. Meu pai me deu para que eu
possa comprar meu presente – Falou estendendo alguns notas para o menino.
- Não, mas obrigado. Eu não vou ter
como te pagar depois... – Negou enquanto recuava um pouco.
- Não precisa me pagar, eu estou
fazendo isso porque eu quero.
- Meu pai não tomaria aceitaria se
soubesse a maneira como o comprei. Eu tenho que trabalhar para que ele tenha
valor de verdade. Tchau menina bonita que eu não sei o nome! – Ela riu.
- Meu nome é May.
- Tchau May!
Ela continuou sentada perdida em
seus pensamentos e vendo o garoto se distanciar. Algo em seu interior
revirava-se. Talvez apenas devesse ir embora e esquecer aquela história. Casos
como aquele deveriam existir aos montes pelo pais, porque se importar? Não
sabia a resposta. Talvez simplesmente por ser véspera de Natal, queria que
aquele garoto sorrisse no final do dia, da mesma maneira que ela sorria todos
os anos com seu pai. As ruas tinham algum movimento, mas não tinha certeza se
ele conseguiria juntar o dinheiro antes que as lojas se fechassem.
Correndo pelas ruas, parou o máximo
de homens com sapato que conseguiu encontrar e repetiu a história do menino,
pedindo a eles que engraxassem o sapato para que o mesmo pudesse comprar o
presente para o pai e dando até mesmo dinheiro para alguns para que o fizessem.No
início do anoitecer já estava exausta, sentando-se exatamente no mesmo local
onde conversara com o garoto. Os papéis dos presentes entregados pelo falso
Papai Noel voavam pelo local. Ela respirou fundo e olhou para o céu, observando
as nuvens carregadas de chuva tamparem a lua.
- May! – Ouviu uma voz gritá-la e
virou-se para ver o mesmo menino ainda mais sujo correr pelas ruas com a pesada
caixa nas costas – May! Eu consegui May!
- Conseguiu? Comprou o presente? –
Perguntou ela sorrindo.
- Juntei o dinheiro. Acabei de
engraxar o último sapato de que precisava. As pessoas pareciam estar me
procurando – Comentou rindo.
- M-Mas agora as lojas estão
fechadas. Você não vai conseguir comprar o presente.
- A loja onde eu vou comprar está aberta
May. Ela quase sempre está...
- E onde é?
- Vem comigo! – Ele segurou a mão da
menina e a puxou para onde queria. Andavam agora pelas ruas praticamente vazias
até chegar a uma pequena farmácia no fim da rua – Senhor Groover! Eu vim
comprar os remédios do Papai!
- Joseph, sabe que eu não posso mais
vender remédios para seu pai. A conta dele está enorme e ele não paga o que
deve – Comentou um homem já bem velho com a maior parte dos cabelos brancos.
- Eu sei, mas eu trouxe dinheiro.
Trabalhei pra comprar – Ele retirou a correia da caixa de um dos ombros e
depositou-a no chão. Passando a mão no local logo em seguida. Com o movimento
da camisa ela pode perceber que o local estava arroxeado. O homem sorriu, seus
olhos ficaram cheios d’água enquanto esperava o garoto entregar-lhe o dinheiro.
- Eu já vou buscar... – Comentou
entrando por uma porta entre as prateleiras abarrotadas de medicamentos.
- Papai tem uma doença que se chama
Fibo-fribomialgia, ela causa dores no corpo inteiro. Ás vezes ele não consegue
nem nos abraçar de dor. Ele está fazendo o tratamento que o governo está
pagando, mas ele não paga esse remédio que é o que faz parar de doer. Papai não
pode trabalhar e mamãe não consegue pagar também porque o dinheiro que ela
ganha no trabalho é pouco e mal dá para nós comermos – Explicou ele passando o
braço pelos olhos – Eu estou tão feliz. É a primeira vez que ganho um presente
de Natal.
- Aqui está Joseph – Disse o homem
entregando o remédio em uma sacola decorada – Tenham um bom Natal - Ambos agradeceram
e saíram da loja. A lua já estava alta no céu e em alguma parte uma leve
melodia natalina tocava chegando aos ouvidos dos dois jovens.
- May, e você pudesse escolher um
presente de Natal. Qual seria? – Perguntou ele rependinamente. Ela pensou por
alguns segundos, poderia pedir tantas coisas, mas nada batia tão forte em seu
coração quanto o que desejava agora.
- Eu... Acho que queria encontrar a
minha mãe – Ele fez um olhar de dúvida. Para não ter que explicar ela
rapidamente mudou o assunto – Ou talvez um Eevee. Sabe, ele é meu Pokémon
preferido... E você, isso foi tudo que pediu?
- Er... Não exatamente. Só que... O
outro pedido é meio que... Idiota – Respondeu levemente corado.
- E o que seria?
- Eu gostaria de ver neve pelo menos
uma vez em minha vida, mas eu sei que isso é impossível porque em Hoenn não
pode nevar.
-
Talvez o Papai Noel realize esse sonho... – Comentou ela olhando para o
céu.
- É, talvez – O garoto tinha um tom
descrente na voz. Eles caminharam até chegar em uma esquina onde se separariam.
Com um rápido abraço ambos se despediram e o garoto correu em direção a casa,
animado por carregar o presente do pai. Ao observar que o garoto havia
desaparecido de sua visão, a garota pegou sua Premier Ball e liberou Skitty que
a cumprimentou animadamente.
- Estou feliz em ver você também,
minha pequena. Preciso de sua ajuda – Ela abaixou-se na altura da gata – Você
acha que seria capaz de fazer um esforço extremo essa noite para realizarmos um
sonho de Natal? – A Pokémon a encarou com um olhar confuso mas logo em seguida
mostrou animação para o que estavam prestes a fazer.
- Meeoowww!
- Isso é ótimo – A morena sorriu e
em seguida virou-se para uma pequena criatura que olhava-as sobre um cabo de um
poste luz – Preciso de sua ajuda também.
- Taaaaaailow!
***
As árvores e o solo ao redor estavam
danificadas. No chão uma pequena pokémon juntamente com sua treinadora
sentavam-se exaustas enquanto o pássaro continuava a observar. Fazer um
treinamento intenso como aquele em uma noite onde todos estavam relaxando com
sua família não era fácil, o pokémon voador estava admirado.
May aproximou-se de sua pokémon
orgulhosa enquanto e acariciava-lhe enquanto curava seus ferimentos com uma
Potion. Aprender um golpe como o Icy Wind em pouco mais de quatro horas não era
um feito difícil, mas a gata conseguiu fazê-lo quase que com uma precisão
impressionante.
- Muito bem garota. Você foi
demais... – Elogiava – Já é quase meia-noite. É melhor que vocês dois partam –
O pássaro voou até elas - Eu sei que vai ser difícil carregar Skitty enquanto
voa, mas tente permanecer no ar o máximo possível.
A ave então deu um piado longo e
feliz e inexplicavelmente seu corpo começou a brilhar. Seu corpo aos poucos
cresceu e se modificou. As asas ficaram maiores e mais poderosas, as garras e
bico mais afiados, olhar astuto de quem parecia dominar os céus da região.
Aquela era a evolução de Tailow, um poderoso Swellow.
By:Zerochan
“Ele evoluiu para realizar os sonhos
de seu amigo. Isso sim é impressionante...”
- Tomem cuidado, ok? Estarei
esperando por você no Centro Pokémon – Os dois confirmaram enquanto Skitty
subia nas costas do pássaro e ambos começarem a voar. Ela andou tranquilamente
para fora do local onde treinaram e se sentou em uma pedra observando a cidade
a distância.
Seu plano era maluco, era insano e
provavelmente não daria certo? Usar o Icy Wind para congelar as nuvens
carregadas de chuva e fazê-las nevar, com certeza era uma ideia de louco, mas
ainda assim ela tinha que ter tentando. Levantou-se da pedra e caminhou em
direção ao Centro onde seus amigos deveriam estar esperando-lhe. Em um de seus
passos, entretanto, pisou em algo que não vira por distração. Olhou para o chão
e viu uma folha de papel um pouco amassada e suja devido ao contato com seus
pés.
- O que é isso? – Perguntou enquanto
abaixava e pegava a folha. O que estava escrito ali parecia uma carta e ela não
conseguiu conter a curiosidade de ler.
“Hoje fazem
exatamente catorze anos desde que eu a deixei. Sei que você não se lembra de
mim, mas me lembro perfeitamente do seu rostinho. Você era tão linda, tão meiga
e deve ter ficado ainda mais com o passar dos anos. Meu pequeno sol... Esse é o
nome que vem na minha cabeça quando me lembro de você. A luz que aquece o
coração de todos, a maior estrela, a guia, a esperança de uma noite chuvosa.
Não sei como você
está agora minha pequena. Não sei se seus cabelos estão loiros, pretos ou
ruivos, ou outra cor que você tenha desejado pintar. Não sei se parece mais
comigo ou com seu pai. Não sei se prefere calor ou frio, doce ou salgado, nem
nada disso. Não sei qual a cor dos seus olhos, embora dentro de mim deseje para
que eles tenham continuado iguais aos meus. A única coisa que sei é que agora
você está com seus catorze anos e que recebeu esta carta no dia de natal.
Provavelmente você
não sabe quem eu sou, ou se sabe provavelmente me odeia e tem toda a razão para
fazer isso, afinal, eu praticamente lhe abandonei. Muito pouco poderei falar
por essa carta, pois tenho medo de que caia em mãos erradas e você nunca chegue
a lê-la.
Apenas quero que
saiba por meio dessa carta que você foi muito amada meu pequeno sol mais amada do que a chuva em um deserto e
assim sempre será, enquanto eu for viva. Se antes foi meu sol, agora também é
minha lua, pois todas as noites está comigo em meus sonhos. Durante todo o
tempo em que não pude estar contigo sentia que me faltava o chão, o ar que
respirava.
Minha carta ao
Papai Noel este ano, assim como em todos os dos últimos anos contem dois
pedidos: O primeiro é conseguir te ver ao menos uma última vez, embora a cada
ano isso tenha se tornado mais difícil e o segundo é que você consiga realizar
todos os seus sonhos, dos menores aos
maiores.
Que Arceus sempre
segure sua mão, minha anjinha.
One step closer
I have died every day waiting for you
Darling don't be afraid
I have loved you for a thousand years
I'll love you for a thousand more”
Seus olhos estavam cheios de água.
Não sabia a quem pertencia a carta, mas desejava de todo o coração que a dona a
tivesse lido e que palavras tão belas não tenha sido simplesmente jogadas ao
vento. Dobrou a carta cuidadosamente e deixou-a naquele mesmo local onde
encontrara. Talvez a dona tivesse perdido e voltaria para buscá-la. Seria o que
May faria se pertencesse a ela.
Caminhou perdida em pensamentos
pelas ruas de pedra, até que algo a tirou de seus devaneios. Algo gelado
tocou-lhe no rosto fazendo a se arrepiar, seguido de vários outros. Ela olhou
para cima e viu a concretização do seu plano. Pela primeira vez estava nevando
em Hoenn.
Diversas pessoas saiam de suas casas
assustadas e ao mesmo tempo eufóricas com a queda da neve. Crianças corriam
pelas ruas tentando pegar os flocos e até mesmo adultos brincavam de jogar
bolas de neve uns nos outros. Aquela com certeza seria uma lembrança que jamais
sairia da memória dos humildes moradores de Oldale. Provavelmente na manhã
seguinte toda aquela neve haveria desaparecido, mas eles não pareciam se
importar com isso. Era um sonho de Natal que provavelmente muitos tinham desde
criança e que pela primeira vez seria realizado.
- Feliz Natal Joseph... – Murmurou baixinho
– Nunca se esqueça de seus sonhos...
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Eu achei muito legal o especial Carol o/
ResponderExcluirSou novo aqui no blog, e pretendo começar sempre que puder!!!
Quero que Joseph e seu Swellow apareça novamente :3
Parabéns viu, sua fanfic é otima!
Por: Alexander
Oi Alexander, tudo bem? Obrigada pelos elogios. É muito difícil aparecerem leitores novos e quando aparecem e ainda mais que gostam do que escrevo me deixa muito feliz. Eu espero que possa continuar acompanhando no decorrer do tempo.
ExcluirObrigada por comentar...
Oii carol! ^_^ eu digitei ali "começar" mas é comentar sempre que puder...Meu deus só vi agora :O
ExcluirEstou acompanhando os dois blogs a um tempo (Neo Kanto tambem) e são muito bons!
Aguardando o próximo capitulo aqui o/
bye
Se você não tivesse falado eu nem tinha reparado, estou meio aérea esses tempos haha
ExcluirO próximo capítulo será postado em breve. Ele foi meio difícil de ser construído e ainda tenho que mudar algumas coisas, mas no máximo até sábado de manhã ele será postado.
Obrigada por acompanhar os blogs!
Abraços!
RIGHT IN THE FEELS, BRO
ResponderExcluirE olha que eu to lendo esse especial em Abril! Pior timing de minha parte impossível kkkkkkkkkkkkk Mas também terminei de ler o especial de Natal do Dento hoje, então já tava ferrado mesmo :v
Carol, foi um especial curtinho, mas muito maneiro. Você tem habilidade de pegar situações de drama e transformá-las em esperança. Imagino que a sensação teria sido mais forte lendo o especial na época correta, mas nem por isso deixou de ser uma experiência boa pra se refletir.
E essa carta... Eu tenho certeza de que não foi engano. Ela foi pra May sim! :v
Até a próxima! õ/
huehuehue acontece, já fiz isso algumas vezes em várias histórias.
ExcluirEssa foi minha primeira tentativa de trabalhar com esse tipo de gênero, pelo que me lembro. Sei que tenho muito a evoluir, mas até que gostei do resultado.
Será que a carta foi para a May? Só o tempo dirá rs
Obrigada pelo comentário, Shads. Até o próximo capítulo!
Especial de Natal no meio do ano, vamos lá. Sei que to lendo material bem antigo seu, e que as escritas e estilos mudam muito com o passar do tempo, mas vou ver se me esforço pra alcançar e tornar-me mais contemporâneo.
ResponderExcluirAchei uma boa parábola, bem clássica, pegando superficialmente nessa desigualdade também obviamente presente no mundo pokémon, com um toque mágico aconchegante no final.
Achei a carta especialmente forte, por se associar à imagem da mãe da May, mesmo que não o seja, espelhando a magia da neve, e ela podendo, pelo menos em imaginação, encontrar-se com o conceito da mãe. Um presente deixado por esse Papai Noel imaginário que ela personificou para o garota.
Quem nunca leu um especial de natal no meio do ano que atire a primeira pedra kkkkk Sim, esses capítulos estão bem antigos, eu mesma sinto a minha evolução de lá pra cá, tanto na escrita quanto no planejamento, espero que você note o meu crescimento também haha.
ExcluirA May ganhou um presentinho de natal, agora resta saber se era real ou não, mas bem, o importante foi que de alguma forma fez o coraçãozinho dela se sentir bem.
Muito obrigada pelo comentário, Ex!
Te vejo no próximo!