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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O céu incrivelmente azul daquela tarde parecia refletir o azul do mar sereno. Não havia sequer uma nuvem que manchasse de branco a bela tela azul ciano que vez ou outra ela salpicado pelos pequenos pontinhos escuros dos pokémon pássaro voando pelo céu. Em meio à calmaria do oceano, um homem de idade avançada e quase totalmente calmo sentava-se em um dos bancos da lancha que dirigira por tantos anos. O motor estava desligado, o único som produzido era leve murmúrio do oceano e o choque das ondas fracas contra o casco do barco. Encarapitado em uma das hastes que seguravam o teto do veleiro, um pokémon pássaro cochilava tranquilamente com seu bico quase totalmente escondido pela asa.
Briney
olhava para o banco à sua frente sentindo uma imensa tristeza apoderar se de
seu peito. Levantou-se e foi até o lugar do motorista de onde pegou um velho
rádio cinzento e desgastado que ainda reproduzia músicas gravadas em antigas
fitas cassetes. Apertou um dos botões do topo e girou outro para aumentar o
volume. As longas notas do violoncelo entremeadas com as teclas suaves do piano
preencheram o ar, sendo logo acompanhadas pela voz rouca de um homem que
cantava as palavras de uma canção que falava sobre um mundo maravilhoso.
“Ah,
eu adoro essa música. Venha dançar comigo, Tim.” Uma voz sussurrou em seu
ouvido e ele se virou abruptamente. O deque estava vazio, Peeko continuava a
cochilar indiferente de tudo que acontecia ao seu redor.
A
mão de Briney segurou fortemente o encosto da cadeira do piloto da lancha, seus
olhos estavam marejados. Ele depositou o rádio no chão de qualquer jeito e
sentou-se estabanado, como se houvesse perdido a força das pernas. Apoiou os
cotovelos sobre os joelhos e cobriu o rosto com as mãos. Não emitia nenhum
ruído audível, mais sua alma gritava em um pranto silencioso.
***
Ela
havia morrido? Não sabia dizer. Sentia seu corpo frouxo, mole, como se
totalmente desossado por uma mão invisível. Ela não respirava, não conseguia se
mexer, mas ouvia uma música. Uma espécie de melodia composta de diversas notas
que a princípio pareciam desorganizadas, mas que se ajuntavam e formavam uma
composição complexa. Ela sentia suas ondas reverberarem por todo seu ser. A
música a chamava, sim, ela sentia. Era uma canção de alegria e amor, como o de
uma amante que espera por anos no alto do penhasco avistar o navio de seu bravo
guerreiro que partira para uma terra distante. Cada vez mais música ficava mais
alta e mais próxima. Santo Arceus! Como ela queria desesperadamente abrir os
olhos, como queria poder vislumbrar a criatura dona da voz tão doce que parecia
acolher todo seu corpo num abraço gentil. De repente, aquela presença estava
ali, tão próxima que ela sabia que se esticasse os dedos eles iriam de encontro
à textura de sua pele. Sentiu então o toque suave da criatura em seu corpo que,
tão delicado quando o flutuar em uma cama feita de nuvens, a levou para cima.
***
Juliana
e Brendan se encontravam em um impasse, olhando um para o outro sem saber o que
fazer. May havia sumido, no entanto, voltar à floresta correndo o risco de
serem atacados e se perderem não parecia ser das opções a mais promissora. Não
faziam a mínima ideia de onde a adolescente estava, mas provavelmente estaria
muito fora da trilha.
—
O que fazemos agora? Como vamos achá-la nessa floresta enorme? – disse Juliana
em tom preocupado.
Brendan
mordeu o lábio inferior. Naquele momento, ele se sentia perdido, sem a mínima
ideia do que deveria fazer, coisa que raramente acontecia.
—
Eu não sei. Acho que o mais adequado seria procurar por ajuda. Não
conseguiremos achá-la nessa floresta enorme. Foi um milagre que tenhamos
conseguido sair tão depressa.
—
Não podemos deixá-la aqui! Ela pode estar precisando de ajuda, e vai levar
horas até chegarmos à Petalburg! – argumentou a adolescente.
O
garoto olhou da negra para a floresta e então de volta para a primeira e então
inspirou profundamente, assentindo por fim com a cabeça.
—
Okay, vou pedir à Vulpix que tente farejá-la. Vamos deixar nossos pokémons fora
das pokéballs para nos defender caso seja necessário.
Antes
que eles tivessem dado sequer um passo, um longo piado preencheu o ar e eles,
crendo que os Taillows agressivos haviam retornado, viraram-se em sua direção
assustados. No entanto, não foi um Taillow que eles avistaram no céu e sim uma
pequena gaivota branca extremamente familiar vindo em velocidade na direção
deles.
—
Agora os Wingulls piraram também? – ele já estava fazendo um sinal para seu
Mudkip quando a negra gritou.
—
Espere Brendan, eu conheço esse pokémon! – estendeu os braços e o pokémon voou
até eles, aconchegando-se carinhosamente no abraço da garota – Esse é o Peeko!
É o Pokémon do Sr. Briney.
—
O que ele está fazendo aqui? Já chega de perdidos por hoje – questionou
enquanto fazia uma cara mal-humorada.
A
gaivota em resposta saiu dos braços da garota e levantou voo. Em seguida, usou
o bico comprido para dar um leve puxão em uma das mangas de sua blusa e voar
alguns metros a sua frente.
—
Parece que ele quer que nós o sigamos... – observou Brendan observando o pássaro
– Mande-o ir procurar o que fazer, não temos tempo para isso.
O
pássaro deu um rasante até o garoto e lhe acertou uma bicada na cabeça
fazendo-lhe soltar um “Ai” de dor, para em seguida voar e repetir o gesto que
fizera anteriormente para chamar a garota.
—
Peeko, eu sei que você quer que o sigamos, porém não podemos ir agora. A May se
perdeu na floresta e eu e o Brendan temos que ir procurá-la – ela explicou para
o pokémon.
Peeko
escutou impacientemente, e, mal a garota terminou de falar, ele deu uma série de longos piados como se
tentasse falar com ambos. Percebendo que, diferente de seu treinador, aquilo
não apresentava resultado, foi até os pokémons dos jovens que rapidamente
captaram o que estava sendo dito. Whismur foi a primeira a reagir correndo na
direção que o Wingull havia apontado, sendo seguida por Mudkip. Seus
treinadores acabaram por segui-los.
Eles
correram pela orla da floresta tentando manter um bom ritmo embora ambos já
estivessem exaustos pela corrida anterior. Depois de vários minutos naquele
ritmo, chegaram a um declive acentuado no qual tiveram que percorrer uma
estreita trilha que serpenteava pelo terreno íngreme para manter-se em
segurança. A quantidade de nuvens escuras do céu naquele momento havia crescido
espantosamente, trazidas pelos fortes ventos que vinham do oceano a ponto de
Brendan ter que tirar o gorro de sua cabeça para que o mesmo não fosse
arrancado pelo vento.
À
medida que avançavam ficavam cada vez mais impacientes. Eles não entendiam o
motivo de seus pokémons terem ficado tão agitados, porém o tempo passava
depressa e a cada minuto que permanecessem seguindo o desconhecido, menos
chances teriam de encontrar a amiga. Quando eles finalmente pararam, estavam em
uma praia muito menor do que a que haviam estado alguns dias antes, sua areia
era mais cinzenta e o solo era composto predominantemente por pedras,
provavelmente sedimentos produzidos pela encosta que haviam descido.
Peeko,
diferente dos demais, não interrompeu seu caminho, voando em direção ao mar onde
eles puderam avistar, à distância, uma lancha de porte médio e cor branca. O
piloto desta parecia tê-los visto e acenava para os jovens, que logo o
reconheceram como o velho homem calvo que haviam encontrado na rota 116 alguns
dias antes.
—Olha
lá o Sr. Briney! – Falou a negra fazendo um aceno para o homem – Será que o
Peeko nos trouxe aqui apenas para vê-lo?
—
Se for isso vou fazer churrasco daquele pássaro inútil! – Brendan já se
encontrava levemente irritado.
—
Parece que ele está com algo na mão – comentou a menina sem dar atenção ao
comentário maldoso do amigo.
O
idoso com certeza trazia algo em mãos, parecia querer sinalizá-los de algo,
porém na distância em que estavam não conseguiam ter uma visão clara do que
era. O pequeno Wingull, que naquele momento, voava sobre o navio caiu em um
mergulho gracioso e tomou o bico o que estava nas mãos de seu treinador,
levando até os garotos. Mal o objeto tocou em sua mão, Juliana o reconheceu.
—
Brendan, é a bandana da May! – disse enquanto abria o tecido verde e macio com
as mãos – Acho que ela está com o Briney! Pelo menos espero que esteja.
—
Nós aqui preocupados e a madame dando passeio de barco – o garoto falou
indignado.
—
Não acho que seja isso, mas... Ele parece querer que fôssemos até lá.
—
Ele está em um barco, como vamos conseguir fazer isso? – questionou Brendan.
Juliana olhou para ele e então de volta para o barco.
—
Ele está o mais perto possível para a embarcação, não acho que esteja muito
fundo, conseguimos nadar até lá. – observou calculando a distância mentalmente.
Brendan mordeu o lábio.
—
Eu... Não acho que seja uma boa ideia – o tom de voz usado por ele atraiu o
olhar da amiga em sua direção. O adolescente olhava para o chão com uma
expressão carrancuda, um rubor sutil passava por suas bochechas.
—
Qual o problema? – Juliana perguntou e o amigo resmungou uma resposta inaudível
– O quê?
—
Eu não sei nadar, porra! Eu sou praticamente uma pedra, quando entro na água a
primeira coisa que faço é afundar! – a negra revirou os olhos.
—
Primeiro, da próxima vez que falar palavrão comigo eu lavo a sua boca com
alvejante. Segundo, como você é de Hoenn e não sabe nadar? – indagou com um
visível tom de indignação em sua voz.
—
As pessoas da região não nascem com guelras, sabia? – rebateu ele em tom
sarcástico.
Ela
não lhe deu atenção, observava para algum ponto distante à esquerda para onde o
navio parecia se dirigir. Havia um pequena marina de madeira toscamente
construída sobre o mar. Não parecia ser muito resistente, mas se não caíra até
aquele dia, provavelmente não cairia agora.
—
Podemos usar aquilo ali, parece que o Sr. Briney está se dirigindo para lá –
sugeriu.
Ambos
retornaram os pokémons e Peeko os acompanhou em sua curta corrida até a
plataforma de madeira. Como já haviam imaginado a estrutura não era resistente
e a mesma balançou assim que os garotos colocaram os pés nela. Brendan sentiu
suas pernas tremerem, a última coisa que desejava naquela manhã era se afogar.
Por sorte, apesar de tudo, conseguiram atravessá-la sem cair.
A
primeira coisa que notaram foi que a lancha de Briney era bem maior do que
parecia a primeira vista. Apesar de antiga, era bem conservada, totalmente
pintada de cor branca. Possuía dois deques principais, sendo o superior
acessado por cinco degraus estreitos situados à direita. Lateralmente a estes,
do lado esquerdo, mais alguns degraus davam acesso a uma porta que deveria dar
para algum tipo de quarto ou sala interno. O andar de cima era coberto por uma
estrutura metálica coberta por algo que parecia ser uma espécie de tecido
grosso impermeável que cobria uma área onde estavam a cadeira do motorista e,
atrás e lateral a esta, bancos compridos forrados com estofado bege claro.
A
segunda coisa foi que sua amiga estava sentada do banco lateral no piso
superior, mas não parecia ter notado a chegada dos outros dois. Seu estado não
era dos mais agradáveis, tinha o corpo completamente molhado e a pele
naturalmente clara estava pálida. O que mais assustava, no entanto, era seu
rosto, no qual um lado estava quase totalmente sujo do sangue que escorrera do
alto de sua cabeça, empapando parte dos cabelos.
— May! – Juliana quase gritou antes de correr
na direção da amiga, que abriu os olhos ao ouvir seu nome ser chamado – O que
aconteceu? Você está bem?
—
Sim... Só minha cabeça que está doendo um pouco e eu descobri que barcos me
deixam enjoada. – a mais nova respondeu e tornou a fechar os olhos.
—
Mas como aconteceu? Como você se machucou?
—
Eu não sei muito bem. Eu estava fugindo... Os Taillows atacaram. Aí de repente
eu estava na água e havia música...
—
Música? – repetiu a negra, como se achasse que a garota não estivesse em seu
juízo perfeito.
—
Eu a encontrei sobre uma pedra perto de uma encosta que dá na floresta. –
Briney explicou – Quando eu a puxei para o barco, ela estava inconsciente, mas
respirando. Pouco tempo antes de Peeko achar vocês ela despertou e eu a ajudei
a subir até aqui.
A
negra olhou para o idoso, por baixo das mangas ainda era possível ver em seus
braços as ataduras que cobriam os ferimentos obtidos durante o encontro com os
Magmas. Sequer podia imaginar o esforço que o mesmo devia feito para conseguir
trazer a mais nova para a embarcação e sentiu imediatamente uma imensa gratidão
e afeição por ele.
—
Ela não me parece muito bem – falou Brendan observando o estado da amiga – Acho
melhor a levarmos a um Centro Pokémon.
—
Mas isso está aberto! Não pode continuar assim ou vai infeccionar.
—
E o que vamos fazer? Só um médico ou enfermeira que pode resolver isso! –
rebateu o garoto, mas a negra não lhe deu atenção, dirigindo seu olhar à
Briney.
—
O senhor tem algo como um kit de primeiros socorros por aqui?
O
idoso assentiu, indo até próximo ao local do piloto e abaixando-se para abrir
um compartimento de tamanho significativo, de onde retirou uma caixa branca de pouco mais de
trinta centímetros de comprimento, cuja tampa estava pintada com uma cruz
vermelha e entregou-a à adolescente. Ela depositou o kit em seu colo e abriu
para verificar o conteúdo. Em seguida pediu gentilmente a May que se deitasse,
a garota então abriu os olhos e fitou a amiga.
—
O que você está fazendo? – perguntou sem conseguir conter a curiosidade.
Juliana sorriu.
—
Vai ter que confiar em mim, ok? – a mais nova arregalou os olhos, mas assentiu
com a cabeça – Isso vai doer um pouco.
Juliana
pegou uma pequena garrafa de álcool 70%, abriu-a e despejou um pouco em suas
mãos. Em seguida, retirou do kit um pacote de luvas estéreis, abrindo-o e
colocando-as rapidamente. Pediu a Brendan para abrir o pacote de gazes e com
estas e soro fisiológico, retirou os cabelos empapados e o sangue do local
revelando um ferimento que, apesar haver sangrado bastante, não era grande.
—
Feche os olhos bem apertados e seja corajosa agora – a garota travou a
mandíbula e assentiu.
Pegou
o resto do álcool e jogou sobre o ferimento. O queixo de May travou-se e um
gemido de dor mal contido saiu de seus lábios. Ela substituiu os objetos que
segurava por um porta agulha, agulha e pinça e se dispôs na complicada tarefa
de dar os pontos no ferimento com habilidade. O corpo da mais nova tremia a
cada movimento, de seus olhos escorriam uma torrente de lágrimas e o suor frio
deixou seu corpo ainda mais úmido e pegajoso, precisando diversas vezes da mais
velha secar sua testa com um pano limpo. Por fim, fez um rápido curativo com
gaze e esparadrapo.
—
Acho que vai ficar uma cicatriz, mas nada significativo. – May não respondeu,
as palavras pareciam ter fugido de sua boca enquanto ela tentava estabilizar a
própria respiração.
—
Isso foi realmente legal – elogiou Brendan – Desde quando você sabe fazer isso?
A
negra deu de ombros, não parecia muito disposta a falar sobre o assunto.
—
Quando se vive sozinha por algum tempo acaba sendo necessário você aprender
algumas coisas para sua própria sobrevivência.
— Mocinha, se
como coordenadora você não tiver tanto sucesso, pode ter certeza que na área
médica terá. – Briney comentou carinhosamente fazendo um leve rubor tingir a
pele escura – Não que você não vá ter sucesso, fará as duas coisas
brilhantemente.
Briney então
olhou para algum ponto no deque inferior de sua embarcação e seu olhar ficou
distante, eles puderam ver seu corpo dar uma leve tremida antes de desviar o
olhar, desta vez para o céu.
— Preciso
levar vocês à Petalburg, May ainda precisa de um check-up e esta não parece ser
uma boa noite para se estar na estrada.
Os dois adolescentes
olharam para o céu. Era impressionante a velocidade com que o clima mudara de
uma hora para outra. Pesadas nuvens de chuva haviam se acumulado cobrindo o céu
com um manto furioso e imprevisível. O vento soprava forte, transformando o
oceano que horas atrás estivera tranquilo como um pasto recém-plantado em um
campo de batalhas onde poderosos exércitos, representados pelas ondas,
chocavam-se uns contra os outros.
— Ju, ajude a
May a ir para o andar inferior. Lá ela pode se trocar e descansar – continuou,
a negra assentiu com a cabeça.
— Eu estou bem
– protestou a mais nova se levantando, mas ainda assim aceitando segurar a mão
que lhe era estendida pela amiga.
Desceram
lentamente os poucos degraus e se dirigiram à cabine, onde surpreenderam-se com
um quarto totalmente completo com uma cama de casal aos fundos, um pequeno
balcão a direita embaixo do qual havia um frigobar, à esquerda uma porta de um
pequeno cubículo que deveria ser o banheiro e lateral a este, prateleiras do
que seria uma espécie de armário embutido. Sobre o balcão estava a pesada
mochila de May que por ser feita de material a prova d’água, ainda preservava
seu conteúdo praticamente intacto.
— Se troque e
depois descanse. Logo nós chegaremos à Petalburg – disse para a mais nova com
voz carinhosa.
— Não se
preocupe comigo, Ju... – disse May sorriso para a amiga e pegando peças de
roupa secas de sua bolsa. Algo em seguida passou por sua mente que fez seu rosto se tingir levemente de vermelho. –
Ah, mas eu... Bem...
— O que? –
perguntou confusa – Ah! Okay, desculpa, vou me virar...
No andar
superior, Briney esperou que as garotas descessem antes de ligar o motor e
partir, pois era arriscado que a movimentação súbita da lancha as derrubasse.
Ele precisava se apressar. Conhecia o tempo e conhecia ainda mais aquele tipo
de tempestade que saia arrastando e destruindo tudo o que havia em seu caminho.
Foi quando seus olhos se focaram em outro ponto, além das garotas que já haviam
desaparecido pelo andar inferior.
Um casal jovem adentrava no barco. A mulher linda
de cabelos negros e pele bronzeada que entrava tinha seus olhos tampados por uma
venda e era guiada por um rapaz alguns centímetros mais alto do que ela. Ambos
traziam em seus rostos grandes sorrisos brancos, embora em seus movimentos o
homem demonstrasse um leve nervosismo.
— O que você está tramando, Tim? – perguntou, sua
voz era tão doce que parecia ser o canto de um anjo.
— Espere. Você já irá descobrir...
— Mas eu estou curiosa! – insistiu ela.
— Pronto! Se prepare! – ele virou-a na direção em
que o idoso se encontrava – 3, 2, 1... – e retirou a venda de seu rosto.
Os olhos dela se arregalaram em sua direção e por
um instante o Briney sentiu que o olhar era dirigido a ele, mas então ela
voltou-se para seu parceiro.
— Meu Deus, Tim! De quem é esse barco?
— É seu, ou melhor, nosso... Eu o comprei...
Agora nós finalmente podemos realizar nosso sonho de viajar pelo mundo – ele
pareceu levemente sem jeito ao falar, como se esperasse algum tipo de
repreensão.
Mas os olhos da mulher brilharam fitando o barco,
seu sorriso era tão luminoso que apagava todas as coisas ao redor. Ela envolveu
o pescoço dele e deu-lhe um beijo terno. Agora uma pequena lágrima escorria por
sua bochecha, lágrima esta que representava toda emoção que sentia.
— Eu amo você, Alyssa Briney. – disse o homem
apaixonadamente.
— Eu te amo mil vezes mais, Timothy Briney – ela
respondeu beijando-o novamente.
— Senhor
Briney! – gritou Brendan tentando despertar o homem, os primeiros pingos de
chuva começavam a cair.
O velho
pareceu piscou e a cena diante de seus olhos desapareceu. Ele balançou a cabeça
de um lado para outro para tentar colocá-la em ordem e então andou
apressadamente até o assento do motorista e ligou a lancha. Um ruído rude e
seco anunciou que o motor estava funcionando e ele desengatou o freio de mão.
— Sente-se,
meu jovem! – ordenou ele ao garoto que obedeceu imediatamente. Seus dedos
agarraram com força o cano metálico frio da amurada.
A embarcação
se moveu de início tranquilamente, mas logo o mar começou a vencer a batalha
pela dominância. Por mais que as estruturas metálicas rangessem de esforço para
emburrar o grupo para o continente, as ondas imensas arrastavam-nos em direção
ao oceano para então envolvê-los com seu abraço mortal. Quanto mais eram arrastados, mais as ondas
cresciam e mais difícil era conseguir lutar contra as mesmas. O céu escurecera,
a noite havia chegado mais cedo naquele dia.
Briney
pilotava a embarcação com toda sua perícia, rezava para que os anos passados no
mar fossem suficientes para levar aqueles jovens em segurança para casa. Sua
visibilidade diminuía cada vez mais a medida que a chuva aumentava e naquele
momento ele percebeu que toda a visão que tinham do oceano havia desaparecido,
eles estavam sozinhos no meio do mar.
“— Senhor
Briney! O senhor não pode ir essa noite, sabe que os mares estarão instáveis –
gritou Simmon. Ele era um bom garoto que sempre o ajudava quando precisava
realizar alguma tarefa complicada em casa.
— Eu quase
tenho o triplo da sua idade, Simmon! Acho que tenho idade o suficiente para
decidir o que posso ou não fazer. – o idoso respondeu de maneira rude enquanto
carregava uma caixa com suas coisas em direção ao barco.
— Eu sei
porque o você está fazendo isso! É por causa dela não é? – o idoso parou sua
caminhada, estava de costas para o rapaz – Ela não vai voltar, Tim!
Demorou vários
segundos para que o velho se virasse e quando virou-se, a expressão em seu
rosto fez o pescador recuar um passo.
— Eu sei...
Que ela não vai voltar... E por saber disso é que estou indo.”
O velho
apertou o volante com todas as suas forças, enquanto tentava manobrar o leme.
Precisava salvar aqueles jovens, precisava resolver levá-los em segurança ou
seria o responsável por suas mortes. Peeko pousou no encosto de sua cadeira
como se para dar-lhe algum tipo de apoio. Timothy Briney, que horas atrás havia
saído com pouco combustível para se perder no mar, agora lutava com todas as
suas forças para sair dele.
May estava
deitada na cama da cabine, com cabeça deitada no colo de Juliana. Seu estômago
agora embrulhava mais do que nunca devido à movimentação intensa do navio,
tanto que ela mal sentia a ardência do ferimento na testa. E aquela música...
Nem mesmo o barulho intenso do mar a amenizava, era como se estivesse sendo
seguida. E a música chamava por ela, a garota sentia! Havia tanta força naquele
pedido que ela queria tampar os ouvidos e pedir que a voz parasse. A negra,
apesar da feição preocupada com que encarava o piso superior, não parecia ouvir
nada. Estaria May enlouquecendo?
A luz que as
iluminava abruptamente se apagou e a expressão de Juliana ficou mais
séria.
— Preciso ir
ver se o Brendan está bem. Fique aqui, okay? – anunciou retirando gentilmente a
perna debaixo da cabeça da amiga.
— Ju... – May
segurou a mão da garota para impedi-la de ir.
— Eu volto já,
vai ficar tudo bem – deu um sorriso e May a soltou.
O que diria
para negra afinal? Que estava escutando uma música que ninguém mais ouvia? Que
a voz a chamava com tanta força que a fazia ter vontade de se atirar no oceano
em fúria? Era ridículo! E mais do que tudo, era loucura. Por isso, nada disse
quando a amiga abriu a porta estreita e deixou uma onda de água entrar,
deixando-a sozinha naquele lugar que agora estava completamente escuro. May
encolheu-se na cama e segurou sua cabeça com as mãos enquanto uma lágrima
solitária corria por seu rosto... Ela só queria que a música parasse.
O céu lá fora estava
em um completo caos, ondas assustadoras jogavam o barco de um lado para o outro
com tamanha fúria que o barco parecia que ia virar a qualquer minuto. Briney
tinha certeza que a qualquer momento uma onda de água os levaria para o fundo.
Seu corpo estava totalmente molhado pelas avalanche de água que invadia o barco
por ambos os lados. De repente uma imensa parede d’água se formou em sua
frente. Parecia que este seria o fim deles...
Fazia uma tarde de céu completamente azul, e o
sol alto deixara o dia mais quente do que o normal. Ele se encontrava sem
camisa, ajoelhado no convés do barco tentando consertar o motor que pifara
alguns dias antes. O trabalho era exaustivo e entediante... Limpar engrenagens,
trocar tubos, colocar graxa nos lugares certos... No entanto, ele amava
fazê-lo. Aquele barco era como um companheiro dele e de sua esposa e quase
nunca os deixara na mão.
Ele não a ouvira se aproximar, seus passos eram
como o andar de um Espeon, silenciosos e elegantes. Seus olhos foram cobertos
pelas duas mãos e um cheiro suave de morangos silvestres penetrou suas narinas.
— Se você disser a palavra mágica ganha um
presente.
— Ocus pokus? Alohomora? – chutou o homem
divertido. Alyssa riu, como ele amava aquele som.
— Você errou completamente, mas aqui está seu
presente. – tirou as mãos de seus olhos e lhe estendeu algo na mão.
A princípio, ele não reconheceu, não era um
objeto comum naqueles tempos. Era fino, das cores branca e azul e nele estavam
marcados dois traços finos de cor rosa bebê. Ele olhou para o mesmo fixamente e
já ia lhe perguntar o que era aquilo quando a compreensão veio á sua mente.
Imediatamente levantou-se e abraçou a esposa.
— Eu não acredito! – levantou-a em seus braços
suados e a rodopiou enquanto ela ria. Ambos chorando de felicidade pois o
número de corações que batiam dentro daquele barco agora havia aumentado.
A
água o atingiu com força penetrando em sua boca e nariz e retirando totalmente
o ar de seus pulmões. Por um instante, teve certeza de que havia morrido, que a
onda o havia levado consigo para dentro da garganta perversa do oceano, mas
então eles ganharam novamente a superfície e ele percebeu que por milagre
haviam sobrevivido.
—Brendan!
Você está bem? – ele ouviu uma voz seguida de uma tosse ruidosa e virou-se para
ver.
Brendan
estava no chão, a força da água aparentemente o havia arrastado e Juliana
estava ajoelhada ao seu lado, uma das mãos segurava-se na amurada enquanto a
outra tentava ajudar o garoto a se manter sentado.
Ela estava chorando sentada no
chão do barco abraçada às próprias pernas. Havia dias que não conversavam,
afinal, ela se isolara depois da perda do bebê. Briney também se sentia triste,
porém sua dor maior era sentir a dor daquela que ele amava. Cortava-lhe o
coração em mil pedacinhos ver seu pranto desamparado.
Vagarosamente, ele se aproximou
carregando o rádio de mão que costumavam usar para escutar a rádio local, nele
ainda era possível colocar fitas K7. Inúmeras vezes eles se divertiram nas
lojas de música procurando por novos cantores com letras de músicas que
pareciam interessantes. Colocou o rádio sobre o estofado do banco que precisava
ser trocado e a música favorita dela tocou.
Ele a puxou pelos braços
gentilmente. De início, ela recusou, mas aos poucos cedeu e se levantou,
sentindo os braços deles rodearem o corpo magro. Briney balançou os corpos em
um ritmo lento para acompanhar a música e ela apenas se deixou levar.
— Com você minha vida sempre
estará completa – ele sentiu os braços de Alyssa se apertarem ao redor de seu
corpo bem como o suave encontro dos lábios dela com seus, eles tinham um leve
gosto salgado de lágrimas.
Bicadas
ferozes em sua cabeça o fizeram acordar abruptamente de seu devaneio e virar-se
para frente. Peeko piava desesperadamente para trazê-lo de volta a si, e não
era sem motivo. Imensas figuras escuras cortavam o oceano! Eram montanhas
marítimas feitas puramente por pedras. O marinheiro arregalou os olhos, pois
elas já estavam próximas demais. O barco inevitavelmente se chocaria contra as
pedras e ele e os adolescentes iriam para o fundo do mar...
Notas da Autora
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Capítulo 21
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Ola Carol!
ResponderExcluirMais um belo capítulo em Hoenn!
Muito bom ver que os dois jovens se deram bem sem a May, sim foi triste ver a garota tendo seu fim daquele jeito, mas de fato você tinha razão, ela só atrapalhava a dinâmica da Ju e do Brendan, sem ela agora a história esta mais fluida e muito... E ela aparece viva de novo... Okay...
Bom esquece a parte 1 deste comentário, a May já voltou viva para esquentar nossos corações abandonados, já estava morrendo de saudades, ainda bem que o Peeko encontrou os jovens para falar para eles onde a May estava, da um biscoito de uva para esse Wingull lindo!
Mal os jovens se recuperam desta breve separação e uma tempestade tropical já quer comer eles vivos! E A May logo morre de novo :(
É muito belo ver o Briney ter suas visão do passado enquanto direge o barco, da uma camada extra divertida (e triste) para a história.
Quero logo ler o próximo capítulo Carol, não tarde a postar ele.
(não seja como o Anan) Até mais!
Oi Anan! Obrigada pelo comentário e elogio.
ExcluirNão foi dessa vez que ficamos sem a May, mas não desista, ainda temos vários capítulos que isso pode acontecer, incluindo o 22, mas eu sei que você ama ela acima de todos os outros.
Brendan vendo vocâ falar em biscoito de uva: ¬¬ . Não entendo como uma pessoa pode não gostar de coisas de uva.
Como eu disse, nenhum dos meus protagonistas tem um minuto de paz, a prova é que a tempestade já veio carregá-los de novo.
Eu gostei muito de ter dado esse plano de fundo ao Briney, pq ele sempre estava lá todas as vezes que eu jogava pokémon emerald e eu o achava um velhinho tão bacana! Agora ao menos ele tem uma história pra ele.
Até o próximo capítulo!
Oiiiii Carol!
ResponderExcluirEntão o Briney achou a May, mas espera aí, então quer dizer que algo salvou ela e a deixou na pedra. Será que foi um pokémon aquático aleatório? sendo assim isso seria por que ela está de algum modo relacionada ao Kyogre? May, escolhida pelo mar.
Brendan não sabe nadar... eu também não sei. Sad.
Essa história do Briney é bem triste mesmo. Me lembrou de algum modo a do cara de Up. Gostei como os flashbacks foram encaixados na narrativa. Ficou bem natural.
Vamos ver o que vai salvar nosso protagonistas. Se vai, né? Não duvido o barco afundar e o Briney morrer, mas okay.
Acho é isso, Carol. Até Mais!!!
Oii Alefin!
ExcluirQue bom você se atentar a isso! Sim, alguém tirou a May da água, mas quem será que fez essa gentileza? Será que pokémons simplesmente ajudam as pessoas ou teve um motivo maior? MAY IS THE NEW MOANA.
Brendan é um desastre como morador de Hoenn. Morou perto da praia a vida toda e nunca se deu ao trabalho de aprender.
Eu queria muito dar uma história importante para o Briney porque ele é um dos meus personagens preferidos dos jogos. Fico feliz que tenha agradado vocês. Pena q talvez ele morra agora T-T.
Obrigada pelo comentário, Alefin!
Yoo Carol
ResponderExcluirAdoros capítulos com flashbacks. E GRAÇAS A DEUS A MAY TÁ VIVA!
Briney is back \o/ E eu estou adorando te ver trabalhar com o passado dele, acho que agora estou conectando a história dele com a casinha do capítulo 11 kkk
É incrível ver como esses personagens secundários de Pokémon tem tanta liberdade para trabalharmos com eles, e eu não posso negar que adoro histórias de amor envolvendo música.
Me lembrou muito Up, altas aventuras, e tenho quase certeza que você se inspirou. E NÃO JULGO, pq aquela história deve ser replicada.
É interessante ver um capítulo se passando em alto mar, considerando que é um ambiente vasto, as vezes se torna limitante se o personagem não sabe nadar. NÃO É MESMO, BRENDAN BIRCH?!
"Tu é de Hoenn e não sabe nada?"
"Tu acha que eu nasci com guelras?"
Meu guerreirinho
E mais uma vez você termina o capítulo com um cliffhanger tenso, só pra atiçar minha curiosidade .
Excelente capítulo Carol
see ya
MAY ESTÁ VIVA VAMOS TODOS COMEMORAR (OU NÃO)
ExcluirA história da casinha não foi em vão. Eu sempre gostei muito desse velhinho e agora ter a chance de escrever uma história só pra ele me enche de felicidade.
Na verdade, me inspirei na música Someone You Loved do Lewis Capaldi para escrevê-la, depois você esculte. É muito linda <3
Poq amamos e odiamos tanto o Brendan? Porque ele não aprendeu a nadar? Descubra hoje no Hoenn Reporter.
Obrigada pelo comentário, Star! Feliz demais por você ter gostado <3
Uma palavra: FLASHBACK!
ResponderExcluirAi amei o capítulo transicionando entre o tempo flashback e o tempo atual, é tão bom, e podemos ver relances do passado dele, é lindo e melancólico ao mesmo tempo, não sei decidir, eu gostei demais, Carola, pq vc me faz apaixonar por personagens assim?
Os meninos, só perfeição, a Ju e Brendan e o diálogo sobre nadar para achar a May, LE-GEN-DÁ-RIO! e graças a Peeko todos estão bem ou será que não?
POR QUE ESSE CLIFFHANGER MEU PAI?
e vamos de ler o próximo cap
Eii Leucro <3. Que bom que você curtiu! Flashback é uma coisa que eu gosto muito de usar por me permitir trabalhar do background dos personagens.
Excluirhueheuhue Eu sempre gostei muito do Briney, então queria muito dar uma história a ele e fazer com que vocês se afeiçoassem a esse velhinho simático.
Espero que os demais capítulos continuem a te agradar e obrigada pelo comentário!
Até o próximo!